Hoje, durante o almoço, percebi que minha infância teve um
sabor diferente do que muitas pessoas descrevem.
Minha primeira infância teve sabor de chocolate, de
biscoitos que eu comia em excesso, de balas e outros açúcares que me foram
oferecidos talvez na tentativa de suprir minha ansiedade, que eu apresentava já
em tenra idade.
Mas minha segunda infância, na verdade início de adolescência
é lembrado por um sabor bem mais peculiar: sabor de beterraba cozida. Quanto
mais grossa e tomar conta de toda a circunferência de uma beterraba inteira,
mais ela me lembra de minha vida dos 13 aos 18 anos de idade (tempo em que me alimentei
diariamente à mesa de minha mãe).
Aliás, beterrabas, tomates, folhas, cenouras. Todas elas
lembram muito o sabor das refeições preparadas com muito carinho pela minha
mãe. Meu irmão, sete anos mais novo que eu, quando ia às compras comigo, saia
correndo com um tomate na mão, comendo como se fosse uma maçã (que ele gostava
também). E fazia um escândalo quando eu pedia para pesar. Só parava de reclamar
quando eu tirava da balança e devolvia a ele que “atacava” vorazmente a fruta
(afinal, eu precisava pagar o tomate, né?).
A questão aqui é a beterraba. Meus outros dois irmãos,
mais novos, comem beterrabas cozidas inteiras, abocanhando pedações que enchem
as duas bochechas. É uma cena bonita de ver, sabe?
E meus filhos também. Aliás, meus filhos gostam de comer as
folhas da beterraba, cortadas bem fininhas e cruas mesmo. Misturam no feijão e
limpam os pratos. Ou cozidas em bolinhos também. Às vezes dão certa resistida,
e eu, fazendo papel de investigadora alimentar descubro que é um espelhamento
das manhas que presenciam na escola. Então rapidamente lembro a eles a
importância de cada alimento e resolvo o problema.
Hoje, ao comer quase meio prato de beterraba (eu como crua,
cozida, as folhas), junto a uma boa variedade de hortaliças, lembro-me de meu
último check-up: todos os níveis de açúcares, colesterol, ferro e outras
substâncias sempre estão sob controle. Mesmo com o sobrepeso que quem me conhece
pessoalmente sabe que carrego (sobrepeso, aliás, que não me tornou sedentária,
mas esta é outra história).
Senti então a necessidade de agradecer publicamente à minha
mãe. Agradecer por ela ter me dito não várias vezes, me impor limites, me
reeducar (e não é qualquer um que consegue reeducar alguém, mesmo sendo filho).
E me alimentar. De corpo e de alma. Espero que ela leia este texto um dia e
entenda a importância que tiveram os pães com margarina e doce de leite que nós
comíamos nos finais de tarde quando eu voltava de meus estágios do Ensino
Médio; alternados com as “viandinhas” de legumes cozidos que ela me fazia para
o almoço. A missão dela foi cumprida: sou uma pessoa saudável.
Pena que ao lembrar-me de tudo isto, me bateu uma tristeza
muito grande, pois lembrei também de uma cena que presenciei em um restaurante:
a mãe, com um casal de filhos, serviu o menino (mais novo) com um prato de
batatas fritas, arroz e bife empanado. A filha serviu-se sozinha com vários
alimentos, entre eles, minha querida beterraba. O menino chorou e esperneou,
querendo provar a iguaria.
- Cala a boca! Tu não come isto. – Respondeu a mãe, enquanto
tentava “socar” goela abaixo da criança porções de batata e arroz; ao contrário
de entregar um pedaço de beterraba para que ele provasse.
Lamentavelmente, no dia fiquei sem ação. Mas juro que se eu
presenciar novamente um caso destes, não vou recomendar nenhum nutricionista.
Vou passar o telefone da minha mãe, isto sim.