-
Mas olhe que beleza, os olhos desta menina parecem dois pequenos diamantes
refletindo o azul do céu! – Dizia a avó enquanto a pegava no colo, durante a
infância.
Porém,
o que Elka via agora era um diamante de verdade, que reluzia o reflexo azul da
camisa do joalheiro por trás da vitrine. Olhar para aquela pedra era como olhar
os próprios olhos em um espelho.
-
Gostou deste, querida? – O marido colocava as duas grandes e alvas mãos sobre
seus ombros, beijando-lhe o rosto.
- É
lindo, mas... – Elka estava receosa, o pingente valia tantos Reichsmark quanto podia ter gastado durante seus trinta anos de idade.
-
Jacob! Pode embrulhar para presente! – O marido sorriu para o joalheiro. – E
com uma fita verde escuro, que é a cor favorita da minha Elka, por favor.
Realmente
a maior parte das roupas de Elka era verde.
Franz
era do tipo de homem que intimidava aos outros pelo tamanho. Tinha ombros
largos, era alto, com mãos e pés grandes. Porém, isso não fazia dele um homem
desengonçado. Pelo contrário. Chegava a ser objeto de cobiça das amigas de Elka
na adolescência. Mas seus grandes olhos verdes voltavam-se apenas para ela. E
neste dia, a olhava com a mesma ternura de sempre (ternura, aliás, que fazia
parte de cada gesto de Franz para com Elka, desde o amanhecer até o anoitecer);
e o pingente de diamante em questão era seu presente no aniversário de dez anos
de casamento.
-
Parabéns Elka, é uma ótima escolha... Diamantes são eternos, assim como desejo
que seja o casamento de vocês. – Disse Jacob retirando a joia do mostruário.
Jacob
e Franz haviam sido criados juntos, pois a família do primeiro atendia a do
segundo desde que seu avô abriu uma joalheria em Nuremberg. Ao contrário de
Franz, Jacob era franzino e moreno, talvez por causa da sua descendência judia.
- E
então, Jacob, vai ao jantar em nossa casa, não vai? Enviei o convite a duas
semanas! – Se havia algo que Franz valorizava mais que sua fortuna em dinheiro
eram as pessoas que considerava amigas.
- E
acha que vou perder os comes da Dona Isolda? Será às sete das noite, não? Pois
às seis e meia já estarei tocando sua campainha!
Os
dois amigos riram como riam em sua infância, quando o pai de Jacob ia atender o
pai de Franz a domicílio e os dois meninos sumiam pelos corredores de casa que
Jacob chamava de mansão, correndo com os cavalinhos de pau de Franz, ou ainda
jogando bola. A brincadeira sempre era interrompida pela voz da cozinheira
Isolda, na época uma jovem robusta que colocava meio corpo para fora da
cozinha, chamando-os para o lanche da tarde.
- Pode
até chegar mais cedo, mas não sei se Isolda ainda tem idade para cozinhar a
quantidade que você come! – Gracejou Franz.
Elka
acenou timidamente com a cabeça para Jacob e acompanhou o marido até a rua. A
manhã estava nublada. O motorista estacionou o Airflow bordô
em frente à loja e Franz fez-lhe um sinal. Queria ele mesmo abrir a porta para
a esposa. Pegou a mão dela, beijou-a, assim como a testa encimada pelos
cabelos que caiam em ondas douradas semi-presas de um lado da cabeça por
delicados grampos.
Retirei esta imagem do site Kboing, está entre wallpapers. Se encontrarem créditos, por gentileza, me informem nos comentários, para que possa editar e informar o autor.
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