Decidira que daquela noite não
passaria. Ou Franz a notaria, ou ela voltaria à casa de sua mãe. Vestiu apenas
um longo robe de seda vermelha que revelava as formas de seu corpo. Maquiou-se,
penteou os cabelos que sem as presilhas pareciam sempre esvoaçantes.
Franz entrou quarto adentro
afrouxando a gravata e tirando o paletó. Elka praticamente saltou sobre ele. O
homem parecia assustado, mas não a empurrou. Ela conseguiu coloca-lo na cama.
Montou sobre ele e abriu o robe. O pingente de diamante movia-se entre os seios
palpitantes com o arfar de sua respiração. Franz arregalou os olhos:
- Elka, o que é isto? Enlouqueceu?
- Enlouqueci! Não aguento mais!
Quero saber o que está acontecendo! O que é Franz? Não sou mais atraente para
você? Olhe para mim! Olhe... O corpo que você sempre desejou... O colo quente
que o recebia nos invernos passados... – Pegou as mãos dele e colocou sobre sua
virilha. – Aquilo que chamava de caminho do paraíso. Vê? Está aqui exatamente
como tem deixado, com o frio do inverno tomando conta. Como é que vai ignorar
uma mulher como eu, que sempre deu tudo o que queria, que foi sua companheira
até hoje?
- Elka, entenda...
- Não, Franz! Eu não vou entender
mais nada! – E saiu de cima dele, dando de mão na carta. – A única coisa que
entendo é isto aqui! Sabe o que é isto, querido? Sabe de onde vem?
E leu a carta em voz alta, fazendo
trejeitos de coquete enquanto Franz sentava lentamente na beirada da cama.
- O que ela tem que eu não tenho? –
Elka beirava a histeria. – É vulgar o suficiente para tentar um homem casado?
Se houvesse me avisado, “meu bem”, eu teria sido vulgar como tanto gosta! É uma
prostituta? Pois se quisesse, me borrava com meus batons vermelhos e pararia
seu carro em uma esquina... Não me custaria realizar suas fantasias! – Aos
poucos foi baixando seu tom de voz e ficou com os olhos úmidos e parados. – Já
sei... Ela não é seca. Todos diziam que nos faltava um filho. E o doutor Johan
já me esclareceu. Sou seca. Não posso nem te dar filhos... Não te contei porque
pensei que na esperança de tentar engravidar-me não pararia de ter-me como
mulher. Diga-me, Franz... Ela lhe deu algum filho? Ou sabe-se lá o que mais ela
pode dar que eu não posso?
E caiu de joelhos, chorando
copiosamente, seminua, descabelada e com a maquiagem borrada.
- Isto tudo é ridículo... – Foram as
palavras que Franz balbuciou antes de sair do quarto.
Elka passou a noite deitada no
tapete do quarto, chorando, porém, decidindo como iria bater à porta da casa da
mãe. O que diria não sabia, mas ia mesmo assim. Não podia aceitar tamanha
humilhação, mesmo desconfiando que seu pai a acharia inútil por não poder
dar-lhe um neto ariano.
Nenhum comentário:
Postar um comentário