- Pois tu sabes que até agora não caiu a ficha?
- Então, já era sabido que a crise do impresso tinha chegado
naquelas paragens.
- É... Há que se adequar.
- Mercado maldito este!
- Mas criatura, este mercado não vai acabar. Lembra daquela
frase clichê: “a comunicação nunca vai acabar... ela só vai mudar de plataforma”?
É assim. Tem que virar multimídia, e...
- Ah, eu vou morrer de fome! Mal sei programar uma câmera
digital doméstica!
- Então, cara! Vai fazer um curso, estudar.
- Estudar? Tu acha mesmo que eu preciso estudar? Minha
escola é a vida, meu filho! É a estrada. Há quantos anos tu achas que eu
reporto daqui da minha cadeirinha? Não tenho mais condições de fazer estas
loucuras! Tempos bons aqueles que a gente perseguia bandido e vinha correndo pra
redação bater os dedos na Olivetti. Uma lauda, um cigarro, uma lauda, um
cigarro. Depois era o bar da esquina e um monte de cerveja. Bons tempos.
- Mas as pessoas não querem mais saber o que já aconteceu!
Eles querem saber o que acontece na hora!
- Que escutem rádio.
- Tu estás andando em looping.
- Todos nós estamos. Vamos todos ficar desempregados mesmo,
com esta enxurrada de crianças que pensam que sabem escrever só porque recebem
um monte de curtidas e coments. Uma verdadeira vergonha!
(...)
- Ainda não caiu a ficha.
- Que ficha, rapaz? Nem vai cair! Isto é um absurdo! Onde já
se viu? Depois estamos todos com nariz de palhaço gritando nas ruas e ninguém
sabe por que! Pouca vergonha! Acham que podem se livrar assim da gente?
- E eu me peguei pensando nos impressores...
- Ah, eles que vão trabalhar numa gráfica!
-Oi?
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