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domingo, 29 de maio de 2016

Ninguém merece

Crônicas da vida real:

Choque. O filho contou que havia pedido desculpas às colegas, pois havia “mexido” com elas. Que havia se dirigido à diretoria da escola para se retratar e pedir orientação de como agir, agora que tinha feito bobagem e não sabia como recuperar a confiança dos colegas.

- Entendo. Mas foram os professores que te chamaram?

- Não, mãe. Foi a Julia*. Vi que ela estava falando grosso e muito brava comigo. Dessa daí eu entendo bem a linguagem: ela estava muito furiosa. Daí me flagrei que tinha algo errado e fui procurar ajuda.

Agora, depois do acontecimento dos trinta e três do Rio de Janeiro, novas discussões surgiram nos lares, e a compreensão sobre receios de que durmam fora de casa, ou saiam para festas de desconhecidos finalmente parece estar sendo entendido.

E a mãe se viu no quarto sozinha com o menino que havia pedido ajuda na direção da escola:

- Mãe, menino não é estuprado?

- Sim, meu filho. Homens e mulheres podem fazer estas coisas contra alguém e sofrer este tipo de violência também.

- Ah. Eu sei como se estupra um menino. Não que eu tenha feito ou participado de uma coisa destas, mas eu sei.

- Entendeu então das coisas que eu temo?

- Sim. Mas fico pensando: se um cara vier pra cima de mim, consigo me defender. Mas se forem dois, não vou poder fazer nada.

(Imagina trinta e três, meu filho...)

- Esta é a parte mais triste. “Não poder fazer nada”. Homens parecem passar menos por este tipo de violência ou não denunciam, o que atrapalha a estatística. Por isto, a consciência que nós temos é de que mulheres passam muito mais por violência sexual do que homens.

- Ô, mãe. Tem uma menina lá na escola que está me provocando.

- Como assim?

- Ela fica rebolando na minha frente, “sentando até o chão” e depois empinando a bunda na minha cara. Daí eu peço licença para acompanhar a lição, e ela debocha gritando para as outras meninas que eu estou me controlando, como se isso fosse errado.

- E tu falou para a diretora?

- Sim. Ela anotou o nome da menina lá no caderno dela.

- Meu filho, se tu precisar que eu vá na escola conversar com a diretora, pode me pedir que eu dou um jeito.

- Não. A professora Manuela* sabe bem ajeitar as coisas... mas se não adiantar te chamo sim.

- Quero que tu entenda uma coisa muito séria: para  respeitar e proteger uma pessoa, não adianta esperar ela dizer não e parar de fazer o que se está fazendo. Vão haver situações em que tu vai te ver sozinho com uma menina e vocês estarão fazendo coisas que talvez ela não queira mais. É só parar também. Mas vão haver situações também, em que ela vai te pedir para fazer coisas que tu sabe que vão machucar ela, se não naquela hora, depois. E aí é teu papel saber dizer não também. Por mais que seja difícil. O namorado daquela moça do Rio de Janeiro estava com ela naquele dia. Dizem que ela se drogou, ou bebeu, não sei ao certo. E que convidava aqueles homens a “se servirem”. Não sei se isto é verdade. Mas se for. Tu não acha que teria sido bem diferente se o rapaz tivesse a mandado tomar um banho e um café forte pra recobrar a consciência ao invés de abusar da situação? Isto também é proteção e respeito.

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Toda mulher já foi abusada de alguma forma.

Algumas pessoas chegam à ignorância de dizer que se alguma personalidade chega até veículos de mídia para falar sobre o assunto é “para se aparecer”.

Sinto muito, meus amigos. Mas se todas as personalidades femininas resolvessem falar o depoimento seria praticamente o mesmo.

Pode ter sido uma agressão física. Ou verbal, ou moral.

Pode ter sido um abuso físico. Ou verbal, ou moral.

Pode ter sido um estupro. Mas pode ter sido visual, pode ter sido virtual, pode ter sido sem penetração.

Não basta apenas respeitar o não.

Há muitos anos estamos debatendo o que é estupro ou não, o que é abuso ou não, o que é agressão ou não.

É tão difícil assim entender que atos sexuais com uma pessoa estando ela contrariada ou fora de consciência plena é estupro?

É tão difícil entender que tirar vantagem de alguma condição melhor em você sobre o outro é abuso?

É tão difícil assim entender que agressão não é só física, mas que ofendendo verbalmente, ou desmoralizar uma pessoa também é agressão?

Eu já tive “nãos” ignorados.

Eu já fui desrespeitada enquanto dormia.

Eu já fui assediada em reuniões de trabalho (graças aos Deuses há bons anos isto não acontece).

Eu já fui tocada na rua, vestida com roupas compridas, enquanto ia ao trabalho.

A vergonha é a mesma.

Hoje não é mais proibido ou repudiado ter filhas. Mas o pesadelo continua o mesmo.

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Uma babá foi presa por ter estuprado uma menina de nove anos de idade.

A babá diz que a menina ameaçava ela caso não cometesse atos libidinosos, fotografasse e armazenasse no tablete da criança.


Vai que a guria estava possuída pelo Pazuzu e agora ninguém acredita na pobre babá?

*nomes fictícios







quarta-feira, 18 de maio de 2016

Conclusões

Ainda sobre a situação atual no Brasil:



A maioria deles acredita na Bíblia.
Segundo a Bíblia “não só de pão o homem viverá, mas de toda a palavra que procede da boca de Deus”.
Segundo Alcuíno de York (depois de tantos outros) “a voz do povo é a voz de Deus”.
E se a Cultura representa a identidade e a voz do povo, concluímos que...

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Um estupro deixa de ser provocado pela vítima quando esta vítima é seu filho ou sua filha.
Um soco vindo de um marido só deixa de ter sido provocado por uma esposa intransigente quando esta esposa é você.
Bandido bom é bandido morto até o momento em que o bandido morto é seu familiar.

Ditadura só é ditadura quando contraria suas próprias crenças.





segunda-feira, 9 de maio de 2016

Alienação parental: ela pode ser substituída!

Dizem que eu sou um tipo meio estranho.

Um tipo meio raro na verdade.

Só porque eu chorei de emoção e gratidão quando vi minha filha agarrada à madrasta dela numa entrega de amigo secreto. e também por que nós trocamos ideias, e ainda por cima maquiagens quando tem festa de família.

Também acham esquisito eu abraçar apertado e pegar no colo o irmão dos meus filhos, nascido do segundo casamento do pai deles. E ainda por cima passarmos Natais juntos.

Esquisito é alienar um ser que está formando sua identidade social, isso sim.

Aproveitando minha esquisitice e me inspirando nas frases que eu mesma digo, resolvi fazer uma tabela de substituições (Tipo Preta Gil, sabe?):


Acho digno e útil.

Já parou para pensar em qual lado da tabela tu mais te refere quando fala com teus filhos, ou com o pai/a mãe deles? Já parou pra pensar que pai/mãe não tem absolutamente nada a ver com marido/mulher? E que se o casamento acabou, virar pai/mãe faz de ti parte de uma equipe vitalícia na criação de outros seres humanos?

E principalmente: que a alienação parental é crime e não está presente apenas na proibição de visitas, mas na influencia em destratar, desrespeitar, diminuir ou humilhar o pai ou a mãe que não mora com o filho? E o pior: não é só porque é crime que deve ser repensada. Já pensou o que se passa na cabeça dest@ filh@?

E agora, quem é o estranho?