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segunda-feira, 13 de julho de 2015

Infância sabor beterraba




Hoje, durante o almoço, percebi que minha infância teve um sabor diferente do que muitas pessoas descrevem.

Minha primeira infância teve sabor de chocolate, de biscoitos que eu comia em excesso, de balas e outros açúcares que me foram oferecidos talvez na tentativa de suprir minha ansiedade, que eu apresentava já em tenra idade.

Mas minha segunda infância, na verdade início de adolescência é lembrado por um sabor bem mais peculiar: sabor de beterraba cozida. Quanto mais grossa e tomar conta de toda a circunferência de uma beterraba inteira, mais ela me lembra de minha vida dos 13 aos 18 anos de idade (tempo em que me alimentei diariamente à mesa de minha mãe).

Aliás, beterrabas, tomates, folhas, cenouras. Todas elas lembram muito o sabor das refeições preparadas com muito carinho pela minha mãe. Meu irmão, sete anos mais novo que eu, quando ia às compras comigo, saia correndo com um tomate na mão, comendo como se fosse uma maçã (que ele gostava também). E fazia um escândalo quando eu pedia para pesar. Só parava de reclamar quando eu tirava da balança e devolvia a ele que “atacava” vorazmente a fruta (afinal, eu precisava pagar o tomate, né?).

A questão aqui é a beterraba. Meus outros dois irmãos, mais novos, comem beterrabas cozidas inteiras, abocanhando pedações que enchem as duas bochechas. É uma cena bonita de ver, sabe?
E meus filhos também. Aliás, meus filhos gostam de comer as folhas da beterraba, cortadas bem fininhas e cruas mesmo. Misturam no feijão e limpam os pratos. Ou cozidas em bolinhos também. Às vezes dão certa resistida, e eu, fazendo papel de investigadora alimentar descubro que é um espelhamento das manhas que presenciam na escola. Então rapidamente lembro a eles a importância de cada alimento e resolvo o problema.

Hoje, ao comer quase meio prato de beterraba (eu como crua, cozida, as folhas), junto a uma boa variedade de hortaliças, lembro-me de meu último check-up: todos os níveis de açúcares, colesterol, ferro e outras substâncias sempre estão sob controle. Mesmo com o sobrepeso que quem me conhece pessoalmente sabe que carrego (sobrepeso, aliás, que não me tornou sedentária, mas esta é outra história).

Senti então a necessidade de agradecer publicamente à minha mãe. Agradecer por ela ter me dito não várias vezes, me impor limites, me reeducar (e não é qualquer um que consegue reeducar alguém, mesmo sendo filho). E me alimentar. De corpo e de alma. Espero que ela leia este texto um dia e entenda a importância que tiveram os pães com margarina e doce de leite que nós comíamos nos finais de tarde quando eu voltava de meus estágios do Ensino Médio; alternados com as “viandinhas” de legumes cozidos que ela me fazia para o almoço. A missão dela foi cumprida: sou uma pessoa saudável.

Pena que ao lembrar-me de tudo isto, me bateu uma tristeza muito grande, pois lembrei também de uma cena que presenciei em um restaurante: a mãe, com um casal de filhos, serviu o menino (mais novo) com um prato de batatas fritas, arroz e bife empanado. A filha serviu-se sozinha com vários alimentos, entre eles, minha querida beterraba. O menino chorou e esperneou, querendo provar a iguaria.

- Cala a boca! Tu não come isto. – Respondeu a mãe, enquanto tentava “socar” goela abaixo da criança porções de batata e arroz; ao contrário de entregar um pedaço de beterraba para que ele provasse.


Lamentavelmente, no dia fiquei sem ação. Mas juro que se eu presenciar novamente um caso destes, não vou recomendar nenhum nutricionista. Vou passar o telefone da minha mãe, isto sim.