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terça-feira, 15 de março de 2016

Meu primeiro post sobre política

Devido à pressão de algumas pessoas e minhas observações diante dos últimos fatos, resolvi falar sim sobre isto.

Na verdade, falar sobre meu primeiro post sobre política.

Rolou em 2009. Sério. Perdi minha virgindade em artigos políticos neste ano. E pasmem: ele foi publicado no jornal local de maior circulação na cidade onde morava. Na época estagiava em um gabinete de vereador e convivi muito com pessoas que frequentavam a câmara, e fiquei perturbada em saber que já havia frequentado aquele mesmo local nas mesmas condições e o pior: havia sido atendida. O que tem de mal em ser atendido por um vereador? Saber que a esperança dele é de que uma cesta básica, uma passagem de ônibus ou um auxílio em impressão de panfletos sobre seu trabalho vão valer um voto.

Observei então que era um perfeito caso de oferta e demanda, onde as pessoas não estavam recebendo nada mais que o esperado. Nasceu assim uma fábula chamada “Como organizar a Bagunçolândia”. Na terra da bagunça, as pessoas não sabiam como reclamar sobre sua insatisfação com a falta de organização para o rei. E menos ainda que ele tinha uma equipe que sondava sobre os problemas da população e sugeria como resolvê-los. Então todos se atropelavam e brigavam em torno dos muros do palácio, e ninguém se entendia.

Na verdade, acabava explicando que votar em alguém sem saber o que podemos exigir desta pessoa é a mesma coisa que comprar um fogão, não ler o manual e depois reclamar que não conseguimos acender o forno para fazer um assado de batatas.

Ou ainda a mesma coisa que empunhar um cartaz com uma frase pedindo uma intervenção militar e logo abaixo outra frase afirmando que só o poder do povo na rua pode combater a corrupção. Oras, quem empunha um cartaz destes claramente está demonstrando acreditar que Maquiavel escreveu “O Príncipe” só por causa dos lindos olhos de César Borgia.

Vejo crianças de oito anos repetindo a palavra corrupção sem saber que é errado fazer o trabalho do coleguinha em troca de um pacote de balas, por exemplo. Aliás, aos oito anos presenciei um impeachment. E minhas coleguinhas estavam preocupadas em pintar um olho de verde e outro de amarelo, mas não sabiam o que estava acontecendo. E até hoje não sabem. Afinal, o povo tirou Collor de lá.

Posso ser um pouco petulante? Antes de gritar palavras de ordem, recomendo que conheçam Gilberto Cotrim, Eduardo Bueno e Eduardo Galeano, o próprio Fernando Henrique Cardoso livre de sua faixa presidencial sobre o peito e sua saudosa esposa Ruth Cardoso. Herbert de Souza é uma boa pedida também. E se acharem pesado demais, podem procurar por Laurentino Gomes, Juremir Machado da Silva e Ken Follet. Parece desconexo. Mas não é. Posso apostar.

Talvez com estas poucas palavras tenha sido clara sobre o porquê de um silêncio que parece muito mais falta de opinião formada. Se me poupar de uma discussão sem sentido for burrice, prefiro continuar com a imagem de burra.


Desculpem a decepção. Pensaram que eu ia falar qualquer coisa sobre Lula, Dilma, Aécio e a postura do Ministério Público de São Paulo? Claro que não. Afinal não vi nada e não sei de nada. Inclusive moro humildemente num apartamento de dois quartos sobre o qual não declarei nada; até mesmo porque é alugado (e ainda por cima em nome do meu marido).

Plágio do dia: Maquiavélico é a mãe!



sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

Sobre shorts, bermudas e silêncio.

O banheiro feminino é uma verdadeira fonte de informações e de conhecimento acerca do ser humano.

Estranha afirmação, não? Para mim, não. Foi lá que escutei colegas de trabalho das quais gosto muito chamando as meninas do colégio Anchieta de “burras que não queriam saber de estudar”.
Enquanto todos estão preocupados com a imagem de uma divisa entre nádegas e coxas expostas pela cavidade da costura de uma peça de roupa; deixam de reconhecer o rosto do presidente da Gerdau sendo conduzido a um interrogatório na foto estampada na capas dos jornais. A bunda das meninas choca mais que a organização político-social do Brasil, talvez até mais que o crescimento da onda de violência no Estado do Rio Grande do Sul, que no ano passado teve seu percentual de homicídios maior que o Rio de Janeiro e São Paulo.

Mas não é exatamente deste tipo de comparação que vim falar.

A questão é que as colegas que estavam conversando viram quando saí de dentro do box do banheiro e tascaram um “tu não acha, Carol”?

E eu respondi como sempre respondo quando quero me esquivar: “não, sei, cheguei lá e a velha já estava morta”. Não adiantou. Houve insistência. “É sério Carol! O que tu acha disto”?
O que eu acho? Eu acho que um vestido longo não evitou que um rapaz “esbarrasse” em mim na praça da Alfândega, no caminho para o trabalho e me levantasse do chão encaixando as mãos dele em minhas nádegas em direção da vulva (meu vestido longo também não evitou a surra que dei nele, mas este já é outro ponto).

E o fato de eu ensinar à minha filha que ela deve respeitar as regras da escola onde ela estuda e usar bermudas para ir à aula não evitou que um colega a trancasse no banheiro e abusasse dela, que conseguiu sair correndo e chamar um adulto. Respeitar normas é um questão que envolve até uma percepção de teorias da Psicologia. Possuímos em nossa identidade social diversas personas. Obviamente a Caroline esposa é diferente da Caroline profissional, que é diferente da religiosa, que é diferente da mãe.

A persona estudante da minha filha usa bermuda e camiseta para ir à escola. Mas isso não a protegeu de um abuso. E isto também não protegeu o menino de ter sido abusado em casa e refletir isto na escola. Fato que só ficou conhecido por que finquei pé na escola até que o Conselho Tutelar fosse chamado para investigar o que estava acontecendo (O menino ia ser expulso sem ninguém saber o motivo de seu comportamento – fácil, não?).

E voltando às meninas do Anchieta: a persona estudante delas seja lá como estiverem vestidas não impediu que passassem por uma inspeção diária em plena exposição diante de todos na escola. O que é degradante de qualquer maneira.

Sendo assim, por que se preocupar tanto com um short, sendo que o problema é bem maior que isto?
Silêncio no banheiro.

Retorno ao meu posto de trabalho. Encaro uma colega que com delicadeza diz: “tu viu esta história do Anchieta? Não sei se sou quadrada ou não, mas acho que elas estão erradas”.
Então respondo tão delicadamente quanto: “Tu não és quadrada. É só tua opinião. Mas veja bem: trabalhamos em uma empresa com cento e vinte anos de mercado. E hoje vim até aqui com um vestido com barra um pouco abaixo dos meus joelhos. Tu achas apropriado”?

“Acho”.

“E se eu viesse vestida assim neste mesmo prédio em 1910”?

Silêncio na sala.

Precisamos do barulho destas meninas do Anchieta. Mas precisamos deste silêncio reflexivo também.
Estamos passando por um período de transição. Chanel usou calças quando isto era um escândalo.
Não podemos fechar os olhos e julgar como errado o comportamento destas meninas, quando na verdade está tudo errado. O ser humano deve respeitar o espaço do outro independente do gênero com o qual nasceu.

Enfim, esta transição é inevitável. Só precisamos que ela ocorra de maneira saudável.


Foto compartilhada pelo site Catraca Livre.


*

terça-feira, 7 de abril de 2015

Dizem que hoje é dia do Jornalista



Hoje, dizem que é dia do Jornalista.

Na verdade, vivo este dia todos os dias.

Assim como em todas as profissões, nos comprometemos antes com o mundo, para depois nos comprometermos com si mesmos.

E como isto é gigantesco, às vezes assustador.

Existem pessoas que pensam que existimos apenas em matérias assinadas em folhetins pela TV, Rádio, Televisão. Que existimos quando damos nosso "boa noite", ou quando anunciamos "notícia de última hora", ou ainda quando escrevemos aquela coluna apimentada na página de opinião. Ledo engano. Existimos nas madrugadas, nas ameaças de quem quer fazer algo escondido, nos momentos em que as imagens são tão fortes e intoleráveis que nos prestamos a vê-las primeiro e proteger nosso expectador de um possível choque.

Existimos também fora das redações, garantindo que seja lá qual for a informação que o expectador queira receber; que ela seja recebida de maneira eficaz, digna e ágil. E não é trabalho fácil.

Existimos formando outros Jornalistas. Pois aquilo que se faz primordialmente necessário para a sociedade precisa de continuidade.

Há algum tempo temos ultrapassado as linhas do romantismo e não nos afixamos em uma mesa com nossos cigarros, café, máquina de escrever: dividimo-nos entre a vastidão da informação, nossas famílias, nossos desejos, nossa saúde. E como a tarefa de mantermos nossa saúde tem sido cada vez mais árdua! Como a linha entre a perda da nossa humanidade, da nossa compaixão, do nosso respeito aos nossos anseios e o caráter de nosso compromisso é tênue!

Mesmo que não estejamos em alguma área de risco fazendo uma cobertura, ficamos com o coração apertado nas mãos esperando nossos colegas voltarem da Faixa de Gaza, do Morro do Alemão, das manifestações populares do Brasil. E fazemos o possível para dar suporte para que ele se mantenha vivo e cumpra a sagrada missão de informar. E é com quase incuportável dor e sensação de impotência que acompanhamos quando temos uma baixa em nossas equipes. Mesmo que esta baixa tenha ocorrido em outra emissora, outro grupo de comunicação, ou outro país. Mesmo que seja um único colega que tenha sofrido com a falha em um colete a prova de balas. Mesmo que tenha sido um único colega atingido por uma bomba pelas costas. Mesmo que tenha sido um único colega torturado por um grupo de intolerantes. Mesmo que tenha sido uma redação inteira vitimada por um atentado. Dependemos um do outro diariamente; e mesmo que não nos falemos ou não nos conhecemos pessoalmente erguemos nossos lápis muitas vezes quebrados e informamos o que acoteceu, numa incansável tentativa de evitar uma lamentável repetição dos fatos.

Pensamos em conteúdo, pensamos em educação, pensamos em cultura, pensamos na verdade acima de tudo (mesmo que precisemos ouvir cada lado dela, mesmo que intragável).

Fizemos um juramento no dia em que tomamos a decisão de nos doarmos desta forma. Que o mundo permita que ele possa ser cumprido todos os dias. Mesmo com todas as dificuldades. Com toda a honra e amor a que nos propomos.

“Juro / exercer a função de jornalista / assumindo o compromisso / com a verdade e a informação. / Atuarei dentro dos princípios universais/ de justiça e democracia,/ garantindo principalmente / o direito do cidadão à informação. / Buscarei o aprimoramento / das relações humanas e sociais,/ através da crítica e análise da sociedade,/ visando um futuro/ mais digno e mais justo/ para todos os cidadãos brasileiros./ Assim eu Juro”.

Assim eu juro. E juramentos para mim são vitalícios, quando não possivelmente eternos.

Feliz dia do Jornalista.