Hoje, dizem que é dia do Jornalista.
Na verdade, vivo este dia todos os dias.
Assim como em todas as profissões, nos comprometemos antes com
o mundo, para depois nos comprometermos com si mesmos.
E como isto é gigantesco, às vezes assustador.
Existem pessoas que pensam que existimos apenas em matérias
assinadas em folhetins pela TV, Rádio, Televisão. Que existimos quando damos
nosso "boa noite", ou quando anunciamos "notícia de última
hora", ou ainda quando escrevemos aquela coluna apimentada na página de
opinião. Ledo engano. Existimos nas madrugadas, nas ameaças de quem quer fazer
algo escondido, nos momentos em que as imagens são tão fortes e intoleráveis
que nos prestamos a vê-las primeiro e proteger nosso expectador de um possível
choque.
Existimos também fora das redações, garantindo que seja lá
qual for a informação que o expectador queira receber; que ela seja recebida de
maneira eficaz, digna e ágil. E não é trabalho fácil.
Existimos formando outros Jornalistas. Pois aquilo que se faz primordialmente necessário para a sociedade precisa de continuidade.
Há algum tempo temos ultrapassado as linhas do romantismo e
não nos afixamos em uma mesa com nossos cigarros, café, máquina de escrever: dividimo-nos
entre a vastidão da informação, nossas famílias, nossos desejos, nossa saúde. E
como a tarefa de mantermos nossa saúde tem sido cada vez mais árdua! Como a
linha entre a perda da nossa humanidade, da nossa compaixão, do nosso respeito
aos nossos anseios e o caráter de nosso compromisso é tênue!
Mesmo que não estejamos em alguma
área de risco fazendo uma cobertura, ficamos com o coração apertado nas mãos
esperando nossos colegas voltarem da Faixa de Gaza, do Morro do Alemão, das
manifestações populares do Brasil. E fazemos o possível para dar suporte para
que ele se mantenha vivo e cumpra a sagrada missão de informar. E é com quase incuportável dor e sensação de impotência que acompanhamos quando temos uma baixa em nossas equipes. Mesmo que esta baixa tenha ocorrido em outra emissora, outro grupo de
comunicação, ou outro país. Mesmo que seja um único colega que tenha sofrido com a falha em um colete a prova de balas. Mesmo que tenha sido um único colega atingido por uma bomba pelas costas. Mesmo que tenha sido um único colega torturado por um grupo de intolerantes. Mesmo que tenha sido uma redação inteira vitimada por um atentado. Dependemos um do outro diariamente; e mesmo que não
nos falemos ou não nos conhecemos pessoalmente erguemos nossos lápis muitas vezes quebrados e informamos o que acoteceu, numa incansável tentativa de evitar uma lamentável repetição dos fatos.
Pensamos em conteúdo, pensamos em educação, pensamos em
cultura, pensamos na verdade acima de tudo (mesmo que precisemos ouvir cada lado dela, mesmo
que intragável).
Fizemos um juramento no dia em que tomamos a decisão de nos
doarmos desta forma. Que o mundo permita que ele possa ser cumprido todos os
dias. Mesmo com todas as dificuldades. Com toda a honra e amor a que nos
propomos.
“Juro / exercer a função de jornalista / assumindo o
compromisso / com a verdade e a informação. / Atuarei dentro dos princípios
universais/ de justiça e democracia,/ garantindo principalmente / o direito do
cidadão à informação. / Buscarei o aprimoramento / das relações humanas e
sociais,/ através da crítica e análise da sociedade,/ visando um futuro/ mais
digno e mais justo/ para todos os cidadãos brasileiros./ Assim eu Juro”.
Assim eu juro. E juramentos para mim são vitalícios, quando não possivelmente eternos.
Feliz dia do Jornalista.