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sexta-feira, 25 de março de 2016

"E depois a bruxa sou eu" ou "Como foi minha sexta-feira santa"

Hoje era sexta-feira santa.

“Era” no passado mesmo, porque para mim o dia já acabou. Sou daquelas que dormem cedo (a não ser que tenha uma maratona Game of Thrones lá em casa, daí a porra fica séria).

Como foi meu dia? Bom, preparei uma lasanha de abacaxi com (pasmem) peito de peru defumado, amanheci tendo contatos bem íntimos com meu marido, trancei meus cabelos, me embebedei com espumante brut (a bosta tinha graduação alcoólica de 11,5% - não me convidem para suave) e saí cantando “Hello” da Adele em embromeixon pela casa até que me colocaram na cama. Ah, xinguei meu gato que está impossível hoje, e meu filho teve sua aula de violão normalmente. E ouvi junto aos meus filhos as músicas que gostamos. Também estou escrevendo este monte de palavrões.

-Mas Carol, é um feriado santo!

Não para mim. Eu fiz tudo isto porque eu posso. Dá licença? Eu posso!

Posso porque fui excomungada. A meu pedido. Não achava justo ter meu nome sendo mais um número na estatística do Vaticano se não pratico absolutamente nenhum rito católico em minha vida. E não foi uma questão de rejeição. Foi uma questão de respeito.

O mesmo respeito que tive quando pedi desculpas a um colega evangélico num momento de vergonha alheia diante de uma colega católica/umbandista que ridicularizou o bispo da igreja que ele frequentava.

Também o mesmo respeito que me levou a não comungar numa missa festiva em comemoração a vinte e cinco anos de vida religiosa de um amigo de longa data. Eu poderia, não há fiscais para me apontar como excomungada. Mas porque agir como se nada tivesse acontecido? Eu não era mais a menininha de sete anos que ele catequizou. Mas ainda somos amigos e os principais valores que ele me passou não saem do meu comportamento.

O mesmo respeito que me impediu de batizar meus filhos na igreja católica. Se eles nunca praticariam seus ritos até terem idade de escolher no que acreditarem, batizá-los seria uma grande mentira, e como o oitavo mandamento dos cristãos diz para não levantar falso testemunho, e isto para mim inclui mentir, não mentiria a eles.

Esqueci-me de outra coisa que fiz hoje o dia inteiro. Ovos de chocolate. Vários. Uns grandes, outros pequenos. Foram mais de um quilo de chocolate nesta brincadeira. Se vou empanturrar meus filhos? Não (claro que eles vão ganhar também). Mas o mais importante é que eles fizeram os ovos hoje junto comigo. Eles vão para doação à ala infantil do Hospital Psiquiátrico São Pedro. Preferi eu mesma fazê-los e colocar bombons bem macios para evitar riscos de engasgos. Criança que é criança relaciona Páscoa com chocolate, e embora eu não acredite muito nesta relação, por que não deixa-las felizes, principalmente quando são privadas de tantas coisas?

E hoje embora tenha feito tudo que as pessoas evitam fazer em um feriado santo me pus a lembrar da lotação dantesca do Mercado Público de Porto Alegre nesta semana em que todo mundo procura peixes caríssimos para comer (ainda acho que esta história de bacalhau tem relação direta com a família real portuguesa que chegou aqui em 1808, mas deixa quieto), discute qual vai ser o prato mais fino e qual o melhor vinho. E claro também, se amontoa nas filas por seu chocolate. Vejo também cristão se referindo a “comemorar” a sexta-feira santa. Oi? Tá comemorando o que, filho? A delação premiada mais famosa da História? Gente, vi até cristão sem saber dizer se no Natal se comemorava o nascimento de Cristo e na Páscoa a ressurreição!

Vi gente dizendo que desejava a paz mundial, mas estava ostentando selfies lindas em Gramado. Não que uma pessoa que visita Gramado não possa desejar a paz mundial; mas se teu desejo é este não deveria estar ajudando pra que isto aconteça?

Vi gente que passou o ano inteiro dizendo que Jesus era seu melhor amigo indo pra praia e servindo banquete. Darling. Se ele é teu melhor amigo, lamento informar, mas hoje é uma data escolhida pelos cristãos para vivenciar o luto. Neste momento, pelos teus ritos, teu amigo está morto. E tu lá, de boas na praia? Imagina que maneiro o Samahin pegando e eu ridicularizando o além-túmulo. Eu hein?

Depois me peguei a lembrar de outro momento. Havia saído de um ritual de Beltane com minha família e dei lugar no ônibus a um rapaz que estava com uma bebezinha no colo. Ao me levantar olhei para o fundo do carro e lá estavam TODOS os bancos ocupados por pessoas com a camiseta da marcha pela família que havia ocorrido no mesmo dia; e uma moça sentada NO CHÃO (degrau) com um bebê no colo. Não vou falar mais nada por dois motivos: primeiro que me embrulha o estômago. Segundo que piada explicada não tem graça.

Daí fico me perguntando que raios aconteceram com os valores que o cristianismo pregava (Um detalhe infame que pode fazê-los cair para trás, meus caros amigos cristãos: já estivemos do mesmo lado. Os romanos perseguiam vocês e nós ao mesmo tempo! E por motivos idênticos.)! Nem filminho de Jesus na TV aberta tem mais! O sentido das coisas se perdeu totalmente.

Aliás, quer um conselho? Um conselho de amiga, de coração?

Pega as crianças, explica o que Jesus fez na Terra, e depois assiste “A Última Tentação de Cristo”, do Martin Scorcese (Sou tão gente boaque vou deixar o link aqui). E aí pergunta o que teria mudado se Jesus tivesse escolhido um caminho diferente. Não vou te mandar ler Stead,  Lobo Antunes, Caldwell, Stern e Nunes. Menos ainda debater a teoria dos laranjas (se quer saber mais daí sim, te aconselho a procurar pelo Danillo Nunes). Seria maldade demais da minha parte.

Na verdade pensei neste textão o dia inteiro, e estou acabando ele quando a sexta-feira santa acabou de fato. Daqui há pouco os cristãos estarão lembrando do momento em que o sepulcro foi encontrado vazio. Um momento fantástico da mitologia cristã.

Mitologia sim. Eu posso. Se Lugh e Morrighan são ditos na minha frente como seres mitológicos e devo encarar isto com naturalidade, eu posso dizer isto. Juro que pelo simples fato de não ser cristã não me importaria nem em trabalhar nos feriados de vocês, desde que pudesse me resguardar nos meus - ah, esqueci, não são feriados! Mas bem que podia, né? - .

E não quer dizer que eu duvide da existência do Deus de vocês, e menos ainda da do filho dele.

Que a paz esteja entre todos nós. De verdade.


quinta-feira, 17 de março de 2016

Sugestão de filme do dia: A Revolução dos Bichos

Hoje a visita ao Blogspot é curta.

Apenas convido: assistam e tirem suas próprias conclusões.

Não serei agressiva a ponto de dizer que posto o filme dedicado a quem não tem paciêcia para ler o livro.


terça-feira, 15 de março de 2016

Meu primeiro post sobre política

Devido à pressão de algumas pessoas e minhas observações diante dos últimos fatos, resolvi falar sim sobre isto.

Na verdade, falar sobre meu primeiro post sobre política.

Rolou em 2009. Sério. Perdi minha virgindade em artigos políticos neste ano. E pasmem: ele foi publicado no jornal local de maior circulação na cidade onde morava. Na época estagiava em um gabinete de vereador e convivi muito com pessoas que frequentavam a câmara, e fiquei perturbada em saber que já havia frequentado aquele mesmo local nas mesmas condições e o pior: havia sido atendida. O que tem de mal em ser atendido por um vereador? Saber que a esperança dele é de que uma cesta básica, uma passagem de ônibus ou um auxílio em impressão de panfletos sobre seu trabalho vão valer um voto.

Observei então que era um perfeito caso de oferta e demanda, onde as pessoas não estavam recebendo nada mais que o esperado. Nasceu assim uma fábula chamada “Como organizar a Bagunçolândia”. Na terra da bagunça, as pessoas não sabiam como reclamar sobre sua insatisfação com a falta de organização para o rei. E menos ainda que ele tinha uma equipe que sondava sobre os problemas da população e sugeria como resolvê-los. Então todos se atropelavam e brigavam em torno dos muros do palácio, e ninguém se entendia.

Na verdade, acabava explicando que votar em alguém sem saber o que podemos exigir desta pessoa é a mesma coisa que comprar um fogão, não ler o manual e depois reclamar que não conseguimos acender o forno para fazer um assado de batatas.

Ou ainda a mesma coisa que empunhar um cartaz com uma frase pedindo uma intervenção militar e logo abaixo outra frase afirmando que só o poder do povo na rua pode combater a corrupção. Oras, quem empunha um cartaz destes claramente está demonstrando acreditar que Maquiavel escreveu “O Príncipe” só por causa dos lindos olhos de César Borgia.

Vejo crianças de oito anos repetindo a palavra corrupção sem saber que é errado fazer o trabalho do coleguinha em troca de um pacote de balas, por exemplo. Aliás, aos oito anos presenciei um impeachment. E minhas coleguinhas estavam preocupadas em pintar um olho de verde e outro de amarelo, mas não sabiam o que estava acontecendo. E até hoje não sabem. Afinal, o povo tirou Collor de lá.

Posso ser um pouco petulante? Antes de gritar palavras de ordem, recomendo que conheçam Gilberto Cotrim, Eduardo Bueno e Eduardo Galeano, o próprio Fernando Henrique Cardoso livre de sua faixa presidencial sobre o peito e sua saudosa esposa Ruth Cardoso. Herbert de Souza é uma boa pedida também. E se acharem pesado demais, podem procurar por Laurentino Gomes, Juremir Machado da Silva e Ken Follet. Parece desconexo. Mas não é. Posso apostar.

Talvez com estas poucas palavras tenha sido clara sobre o porquê de um silêncio que parece muito mais falta de opinião formada. Se me poupar de uma discussão sem sentido for burrice, prefiro continuar com a imagem de burra.


Desculpem a decepção. Pensaram que eu ia falar qualquer coisa sobre Lula, Dilma, Aécio e a postura do Ministério Público de São Paulo? Claro que não. Afinal não vi nada e não sei de nada. Inclusive moro humildemente num apartamento de dois quartos sobre o qual não declarei nada; até mesmo porque é alugado (e ainda por cima em nome do meu marido).

Plágio do dia: Maquiavélico é a mãe!