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terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

O homem não é Homem...




Luísa era mulher comum. Embora não fosse uma deusa escultural, chamava a atenção por onde passasse por ser dona de uma beleza que fugia dos padrões. Além disso, conforme a maioria dos homens que já haviam se relacionado com ela, direta, ou indiretamente diziam, era uma pessoa muito inteligente; e isto os inspirava medo. Ela não sabia disto, até o dia em que um deles explicou por que estavam separando-se. Não era muito jovem, mas também não muito madura. Porém, encarava os fatos do seu cotidiano com uma certa dose de força que às vezes assustava as mulheres também.


Um dia, Luísa decidiu que não seria de mais ninguém. Não se dedicaria por inteiro a nenhuma amizade específica, trataria todos os amigos de igual forma. Assim, nunca estaria só, quando um destes faltasse a uma festa, por exemplo. Se quisessem confiar nela, que confiassem, ela não os decepcionaria. Mas não confiaria em mais ninguém. E assim seria com os homens; desde o pai, até o ex-marido. Quem garantia que quando faltava o dinheiro mísero de uma pensão alimentícia, não era por ter sido gasto em uma noitada com uma sirigaita? Realmente, não dava para confiar em seres que pensassem mais em sexo do que em matemática.

Mas ela tinha dúvidas. Às vezes alguns homens eram tão gentis diante dela, que não sabia se deveria enxergá-los desta forma.

Luísa trabalhava em uma função onde a maioria dos seus colegas eram do sexo masculino, e as pessoas que atendia na empresa também. Até se perguntava por quê os homens dominavam aquela área. "Por serem mais frios e calculistas"; respondeu seu superior, um homem, passional como todos aqueles que já haviam adormecido com cara de criança em seus braços.

Dúvida cruel. Ele estava afirmando, com toda a segurança de quem acredita ser dono do "sexo forte".

Naquela tarde, visitaria um cliente da empresa, conforme este havia solicitado, alegando não ter tempo disponível para tratar de negócios fora de seu escritório.

As palavras do gerente latejavam em sua cabeça, e além de duvidar existir um homem que não fosse passional, se perguntava se a classe social ou a função exercida mudavam alguma coisa no interior dos seres que segundo algumas pessoas, vieram de Marte. Está certo, alguns cheiravam melhor que os outros, dependendo do seu grau de vaidade e exposição. Alguns falavam mais baixo, ou abriam portas de carro. Uns deixavam que a colega de trabalho servisse seu próprio café, enquanto outros particamente não permitiam que ela levantasse de sua mesa.

Luísa estava vestindo uma camisa branca. O primeiro botão aberto. Sempre deixava os primeiros botões de camisas abertos, não por querer chamar atenção, mas por se tornar um decote não tão profundo, porém, não tão fechado. Ao ponto de chamar mais atenção para seu colo, conforme uma revista feminina aconselhara a pessoas que tivessem o tipo de corpo que ela tinha. Mas dos seus fartos seios, nada ficava a mostra.

Na rua, passou por um entregador de materiais de construção, a trabalho. Sujo de cimento e suado. Ao passar por ele, ouviu a frase "Tá valendo!"; dita quase aos berros, acompanhada dos risos do motorista do caminhão, que gritou um "Gostosa", logo atrás. A rua era de baixa transitação. A única mulher que estava por alí era ela. "Estes peões de obra são todos assim...", pensou ela, segura de que seria tratada de forma diferente pelo conceituado advogado do qual adentraria o escritório sofisticado.

Subiu os andares de elevador. Tocou a campanhia. O cliente atendeu à porta, já se desculpando por estar sozinho no escritório, a recepcionista estava doente. Puxou a cadeira para que ela se sentasse.

"Aceita um café?"

"Aceito, sem açúcar, por favor..."

"Então, se me der licença, estou sozinho, vou ter que pegar na cozinha."

E retirou-se. Ele era diferente do entregador. Nunca gritaria. Estava perfumado e alinhado. Voltou com as xícaras em uma bandeja. Serviu-a sem esquecer dos lados que a etiqueta manda alcançar algo a quem é servido.

Longa conversa, dúvidas desfeitas; ela puxou o contrato da pasta. Alguns campos eram preenchidos a mão. Ela baixou os olhos e escreveu.

Quando ergueu a visão deu de cara com um homem hipnotizado por um primeiro botão de camisa aberto.

"Doutor Alberto...? Alberto...?"

"Desculpe, estava distraído..."

"Por gentileza, o número do seu registro da OAB..."

"Só um minuto...vou ver na minha carteira...esqueci."

Os olhos dele haviam gritado. "Tá valendo...gostosa!"...ela saiu de lá com uma única certeza: a comprovação de uma frase que havia ouvido uma vez, não lembrava onde...:"homem não é Homem, é bicho."



Originalmente escrito e postado em Recanto das Letras em 24/09/2008.


segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Amor de irmão




Ah, o amor dos irmãos...


Irmão que é irmão briga o dia inteirinho para depois pular para a cama do outro quando tem medo de fantasma na madrugada...
Mas também chuta o a parte de cima do beliche quando dorme na parte de baixo.

Irmão que é irmão se xinga e arrasta o outro pela orelha quando a mãe não está em casa...
Mas se um amiguinho da rua de trás chama de orelha de abano, pé chato ou narigudo... sai de baixo!!!

Irmão que é irmão aceita batizar o sobrinho...
E dá bronca no gurí como se fosse o próprio filho, quando necessário. Não sem antes ter dado aquela bola de futebol que ele pediu pro “dindo” na Natal.

Irmão que é irmão inscreve o irmão em algum concurso público porque quer ver o outro melhorar de vida... e ainda acaba pagando a homologação já que confia cegamente na capacidade do outro.

Irmão que é irmão pode pegar roupa emprestada, comer os bifes dos dois potinhos de comida que a mãe deixou na geladeira para os filhos que chegam tarde do trabalho. Pode fazer cambalacho e depois ficar três anos em silêncio: Mas não sem chorar todas as noites de saudade da risada do outro irmão.

Amor de irmão é assim: é extremo, incondicional, contagiante, pois mesmo que sejam seis, irmão que é irmão ama os outros cinco da mesma forma...

Mas pôôô, Assis, tinha que amar tanto assim o Ronaldinho??? Definitivamente, organizar coletiva, apelar pra mídia, e forçar a barra com um dos maiores clubes do Brasil pra dar plaquinha pro piá só por causa de um primeiro gol é muito querer, mano!

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

O Retorno da Águia

Que a águia é um belíssimo pássaro, quase ninguém duvida. Que tem uma capacidade muito grande de resistência, duvidamos menos ainda. Mas que faz as vezes de fênix... bom, daí já é de se comprovar.


A águia, por ser uma ave de rapina, tem olhos que tudo enxergam, e uma astúcia de dar inveja à raposas.

De cima de um estandarte seguido por guerreiros romanos, a águia viu Júlio César tomar aos poucos o Egito, há milhares de anos atrás. Viu também as furtivas visitas de Marco Antônio à cama da rainha que dividindo suas paixões entre seu governo e o homem que representou uma das tantas traições contra o líder divino romano, preferiu à morte a ver a ruína de seu império. E viu Otávio sendo obrigado a casar-se com a prima Otávia, e Brutus dando a punhalada de misericórdia no próprio pai.

De dentro das medalhas que reluziam no uniforme dos oficiais do exército alemão, a águia viu nações serem dizimadas por uma doença irremediável: o desejo pela supremacia. Viu muçulmanos e judeus jogados todos no mesmo balaio de gatos a serem mortos pelos dobermanns do furher. Viu um bunker e seus habitantes sendo destruídos pelo orgulho de nunca serem pegos pelo inimigo... que ironia. Inimigo que vinha acompanhado de uma outra águia.

Existe uma teoria espiritualista que diz que a reencarnação não é individual. Segundo ela, as civilizações extintas trariam seus habitantes de volta. Talvez seja assim que a águia ressurja das cinzas, sobre a cabeça de seus líderes.

Engraçado... ainda não tenho informações de como as águias reagem quando alguém cisca em seus ninhos...

E menos ainda sobre qual vai ser a opção do velho faraó. Serpentes? Veneno? Retirada estratégica? A bala que pode retirá-lo do poder para colocá-lo na História?

Estando o faraó certo ou errado, vale lembrar que temos novamente duas águias em questão: a águia da liberdade, e a cabeça do Deus egípcio Hórus... que embora seja o deus Sol e do Céu, é filho de Osíris, a própria morte.

Saiba mais:
http://www.correiodopovo.com.br/Noticias/?Noticia=253898

http://www.correiodopovo.com.br/Noticias/?Noticia=253879




Nut e Geb, a lenda egípicia da concepção do homem pelo Céu e a Terra