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segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

A Terceira Carta - parte I

- Mas olhe que beleza, os olhos desta menina parecem dois pequenos diamantes refletindo o azul do céu! – Dizia a avó enquanto a pegava no colo, durante a infância.
Porém, o que Elka via agora era um diamante de verdade, que reluzia o reflexo azul da camisa do joalheiro por trás da vitrine. Olhar para aquela pedra era como olhar os próprios olhos em um espelho.
- Gostou deste, querida? – O marido colocava as duas grandes e alvas mãos sobre seus ombros, beijando-lhe o rosto.
- É lindo, mas... – Elka estava receosa, o pingente valia tantos Reichsmark quanto podia ter gastado durante seus trinta anos de idade.
- Jacob! Pode embrulhar para presente! – O marido sorriu para o joalheiro. – E com uma fita verde escuro, que é a cor favorita da minha Elka, por favor.
Realmente a maior parte das roupas de Elka era verde.
Franz era do tipo de homem que intimidava aos outros pelo tamanho. Tinha ombros largos, era alto, com mãos e pés grandes. Porém, isso não fazia dele um homem desengonçado. Pelo contrário. Chegava a ser objeto de cobiça das amigas de Elka na adolescência. Mas seus grandes olhos verdes voltavam-se apenas para ela. E neste dia, a olhava com a mesma ternura de sempre (ternura, aliás, que fazia parte de cada gesto de Franz para com Elka, desde o amanhecer até o anoitecer); e o pingente de diamante em questão era seu presente no aniversário de dez anos de casamento.
- Parabéns Elka, é uma ótima escolha... Diamantes são eternos, assim como desejo que seja o casamento de vocês. – Disse Jacob retirando a joia do mostruário.
Jacob e Franz haviam sido criados juntos, pois a família do primeiro atendia a do segundo desde que seu avô abriu uma joalheria em Nuremberg. Ao contrário de Franz, Jacob era franzino e moreno, talvez por causa da sua descendência judia.
- E então, Jacob, vai ao jantar em nossa casa, não vai? Enviei o convite a duas semanas! – Se havia algo que Franz valorizava mais que sua fortuna em dinheiro eram as pessoas que considerava amigas.
- E acha que vou perder os comes da Dona Isolda? Será às sete das noite, não? Pois às seis e meia já estarei tocando sua campainha!
Os dois amigos riram como riam em sua infância, quando o pai de Jacob ia atender o pai de Franz a domicílio e os dois meninos sumiam pelos corredores de casa que Jacob chamava de mansão, correndo com os cavalinhos de pau de Franz, ou ainda jogando bola. A brincadeira sempre era interrompida pela voz da cozinheira Isolda, na época uma jovem robusta que colocava meio corpo para fora da cozinha, chamando-os para o lanche da tarde.
- Pode até chegar mais cedo, mas não sei se Isolda ainda tem idade para cozinhar a quantidade que você come! – Gracejou Franz.
Elka acenou timidamente com a cabeça para Jacob e acompanhou o marido até a rua. A manhã estava nublada. O motorista estacionou o Airflow bordô em frente à loja e Franz fez-lhe um sinal. Queria ele mesmo abrir a porta para a esposa. Pegou a mão dela, beijou-a, assim como a testa encimada pelos cabelos que caiam em ondas douradas semi-presas de um lado da cabeça por delicados grampos.

Retirei esta imagem do site Kboing, está entre wallpapers. Se encontrarem créditos, por gentileza, me informem nos comentários, para que possa editar e informar o autor.




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