Vindo
de Franz, é claro que o seu jantar de aniversário de casamento não resultaria
apenas em um grupo de pessoas comendo e bebendo ao redor de uma mesa. Admirava
as danças de salão, desde as valsas até as polcas, passando pelas marchinhas
nativas da Bavária; e por isso, contratou um grupo de músicos para promover um
pequeno baile no hall de visitas. Na última dança daquela noite, já madrugada,
Jacob “roubou” Elka de Franz e fez as sais de seu vestido rodado farfalharem em
meio aos risos de uma polca bem marcada e rápida.
Os
convidados foram embora, no salão vazio, sob um lustre de cristal, Franz
envolveu a cintura da esposa com as mãos e beijou-a nos lábios tão longamente,
que ela sentiu como se o calor do verão subisse dos seus pés até o colo. Franz ergueu-a em seus braços e levou-a escada acima, até o quarto.
-
Meu amor... Preciso tomar um banho, colocar uma camisola... – Sussurrou Elka,
enquanto ele abria seu vestido e a deitava na cama.
-
Não precisa. Quero você assim, como é... Como está. – Ele admirava o corpo nu
dela ornamentado apenas com o colar de diamante.
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O
relógio despertava para o verão de 1936. Elka espreguiçou-se e sentou encostada
na cabeceira da cama. Levou um susto ao abrir os olhos e ver Franz sentado aos
seus pés, muito sério.
- Querido...
Há quanto tempo está aí?
-
Não sei... Talvez a uma meia hora... – Franz passou os dedos entre os próprios
cabelos e suspirou. – Elka... Perdoe pela pressa, mas poderia me acompanhar até
o sótão?
Elka
chegou a dar um sorriso, mas percebeu não se tratar de uma das costumeiras
surpresas de Franz, tamanho era o peso da sua expressão e logo ficou séria
também.
-
Posso pelo menos vestir-me?
-
Coloque o robe. Temos um pouco de pressa.
Ela
obedeceu. Acompanhou o marido que a levava pela mão. Entraram no sótão.
Estranhou que Franz não tenha pegado a lamparina que geralmente ficava na
entrada: já estava acesa ao fundo do cômodo. Refletida pela luz tênue, a
silhueta de Jacob, sentado em uma cama improvisada no chão.
-
Jacob? Mas o que... – E Elka foi interrompida pela mão de Franz sobre seus
lábios.
-
Não fale alto. Ninguém pode saber que ele está aqui. Nem os empregados.
A
mulher aproximou-se lentamente do amigo e percebeu o que estava acontecendo.
Jacob chorava assustado. Sentou-se ao seu lado e o abraçou, sem perguntar mais
nada. Franz envolveu-os com seus braços. Agora os três eram cúmplices dos
maiores crimes que poderiam ter cometido: ela, o de voltar seus olhos apenas ao
seu pequeno mundo de luxo inocentemente sem saber que um dia esta cena viria a
acontecer; Franz, o de acreditar que todos eram iguais e podiam ser amigos; e
Jacob, o de ter nascido judeu.
Esta imagem estava disponibilizada pelo Google. Caso saibam o autor, me informem nos comentários para que eu possa editar o post dando os devidos créditos.
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